Idosos precisam ser bem acolhidos por familiares e sociedade e devem se preparar com antecedência para o envelhecimento

Se na década de 1980, o Brasil era identificado como o país dos jovens e das crianças, que formavam boa parte da população brasileira naquele momento, nos tempos atuais, o país é cada vez mais de adultos e de pessoas mais idosas. Os idosos já são quase 20% da população nacional, com uma tendência de aumentar ainda mais sua presença nos próximos anos. Dessa forma, é necessário criar e manter mecanismos para incluir socialmente esse grande grupo de pessoas que ainda sofre muito preconceito no país, fazendo também com que se mantenham ativos e saudáveis.

O envelhecimento, muitas vezes, pode ser acompanhado de perdas de identidade social e de círculos de relacionamento interpessoal, que podem ser consequência de fatores como aposentadoria, viuvez, distanciamento dos filhos, falecimento de amigos, ou mesmo o isolamento causado por doenças e outras situações que restringem o convívio com as demais pessoas. Por isso, a inclusão social do idoso deve ser trabalhada em diversos âmbitos.

“A inclusão social é essencial para o envelhecimento saudável. O idoso precisa sentir que faz parte, que pertence à família, à sociedade, ao grupo de amigos. Sentir que é amado e que tem valor. Paciência e carinho são fundamentais para tornar a convivência mais harmônica, respeitando sua história, seus valores, aceitando suas limitações e valorizando suas capacidades. É preciso propiciar momentos de descontração – como viagens, jogos, visitas, reuniões, passeios –, ajudando a preservar a autonomia, tendo empatia e principalmente ouvindo. O idoso tem experiência e muito a ensinar”, lembra Iris Tuleski Tebet, psicóloga e proprietária da Remanso Moradia para Idosos.

É importante que a pessoa, quando mais jovem, se prepare para seu futuro, pense no período em que será um idoso. Por isso, deve planejar a aposentadoria com antecedência, para que a súbita interrupção do trabalho e de todas as rotinas de vida relacionadas a ele não se transformem em um vácuo que vai desnorteá-lo. “O ideal é que o futuro aposentado comece a fazer planos para depois da aposentadoria, como cultivar um hobby, realizar alguma atividade voluntária, iniciar uma nova carreira, enfim, para não acabar angustiado, entediado ou mesmo depressivo”, confirma Vitor Last Pintarelli, médico geriatra e doutor em Ciências pela Unifest.

Ele cita algumas ações que o idoso pode fazer para se sentir socialmente incluído, como continuar trabalhando, cultivar um círculo de amizades, praticar um esporte, aprender coisas novas –  uma língua estrangeira, um instrumento musical, uma atividade manual, entre outras. “O idoso que busca realizar seus sonhos, que talvez não tenha tido oportunidade de concretizá-los quando era mais jovem, provavelmente é um idoso socialmente incluído, e isso reduz o risco de depressão, proporciona maior qualidade de vida e faz com que contribua de diversas formas com a sociedade da qual faz parte”, completa.

Também é dever do poder público garantir ao idoso condições para ter uma melhor qualidade de vida, contribuindo para o acesso à moradia, saúde e cultura, com maior participação e integração na comunidade. Já existem algumas iniciativas do poder público já estabelecidas e incorporadas ao cotidiano que permitem uma maior inclusão social, como: a gratuidade no transporte público municipal, existente em várias cidades, como Curitiba, que facilita os deslocamentos e diminui o risco de isolamento; a disponibilização de vagas preferenciais para idosos em estacionamentos; a meia-entrada em espetáculos culturais. “Contudo, todas essas medidas beneficiam principalmente os idosos que se encontram em melhores condições de saúde e mobilidade. Infelizmente, para aqueles que apresentam dificuldade de locomoção ou simplesmente privações sensoriais, com déficits de visão e de audição, salvo algumas iniciativas tímidas, ainda não recebem suficiente atenção para evitar seu isolamento social”, diz Pintarelli.

Tebet lembra que muitos idosos mal conseguem pagar seus medicamentos e precisam retornar ao trabalho para complementar sua renda e, muitas vezes, ainda são os que sustentam suas famílias. “O sistema de saúde pública dá prioridade aos idosos, mas mesmo assim alguns perecem no aguardo de atendimento, exames e cirurgias.  Aqueles que têm poder financeiro para pagar um plano de saúde, ao chegar próximo dos 60 anos veem o valor da mensalidade aumentar e seu salário reduzir em função da aposentadoria”, confirma. 

Para a psicóloga, para promover a transformação e inclusão do idoso na sociedade é necessário oferecer e incentivar a criação de cursos de atualização e de capacitação, e criar grupos para troca de experiências e conhecimentos, para que idosos se sustentem física, emocional e economicamente. 

Preconceito

O preconceito contra o idoso recebe diversos nomes, como idadismo, etarismo ou ageismo, e ocorre de diversos modos, muitas vezes por simples ignorância, com adoção de visões estereotipadas do envelhecimento, que fazem com que todo idoso seja identificado como dotado de problemas de memória, com manifestações depressivas, sem capacidade de gerir sua própria vida, inválido ou incapaz. 

Em casos mais graves, o preconceito se manifesta com a visão de que os idosos representam uma espécie de fardo ou peso-morto que a sociedade carrega, negando a eles o reconhecimento por tudo o que já contribuíram e continuam contribuindo. “O melhor antídoto para a ignorância é o conhecimento. É necessário que as verdadeiras faces do envelhecimento sejam mostradas, e que a nossa sociedade passe a assumir como valores não somente a beleza e a força da juventude, mas também a sabedoria, a experiência e, por que não, também o reconhecimento da beleza e da força próprias dos idosos”, revela Pintarelli. 

Tebet destaca que, infelizmente, no Brasil, o preconceito não é só contra idosos, mas contra tudo o que é diferente. “Mas, atualmente, muitos idosos estão ativos, trabalhando, se exercitando, querendo participar, o preconceito vem diminuindo. O idoso também deve manter o interesse em participar e se fazer presente com ânimo, falando o que pensa sem imposição, com a mente aberta para novos conceitos. Deve aceitar auxílio para o que precisar”, opina.

Na visão de Pintarelli, o idoso não deve parar de sonhar e dar sua vida por concluída após ter criado os filhos e se aposentado. Se já realizou os projetos principais que tinha em mente, deve buscar novos desafios, se reinventar. “O idoso deve aprender a usar as novas tecnologias, facilitadoras da comunicação Se não pode encontrar pessoalmente seus amigos e familiares, pode vê-los e conversar com eles por videochamadas, ou até mesmo pode resgatar velhos hábitos do passado, como escrever cartas. Distanciamento social sim, solidão jamais”, conclui.

 

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